sexta-feira, 2 de junho de 2017

Focaccia de Alho Selvagem

Já conhecera muitas, mas nenhuma como aquela!
Parecia esconder um segredo, guardar um mistério que urgia ser desvendado. Olhando-a com atenção não era possível discernir a sua idade, era como se  o tempo não existisse para ela e a beleza que irradiava fosse eterna. Emanava um aroma familiar, tantas vezes sentido, não era um perfume, mas trazia consigo memórias de conforto e aconchego. A cada passo mais se embrenhava nela, embriagado pela sua presença não se sentia estrangeiro, tinha a sensação de lhe pertencer, de ser parte dela e ela parte dele! Sentia-se insano porque estava a vê-la pela primeira vez!



Estive uma semana na Dinamarca, passei  dois dias em Copenhaga e depois rumei a Aarhus, a segunda maior cidade deste país nórdico, onde mora a minha filha. Fiquei fascinada com as suas florestas, tão diferentes das nossas! Apesar de ser primavera, uma grande parte do chão cobria-se com um manto de folhas secas, lembrando o outono e as árvores ainda se apresentavam despidas. A vegetação que se encontrava era rasteira, muito viçosa, no ar sentia-se o cheiro inconfundível de... alho! Sim alho, cheirava assim porque as folhas verdes pertencem a uma espécie chamada "Allium ursinum", alho de urso ou alho selvagem, trata-se de uma planta com grande valor medicinal e é comestível! 



Fiquei de imediato curiosa  e com um grande sorriso de satisfação!  Apesar de estar de férias não resisiti a colher, provar e experimentar este novo ingrediente! Fiz tudo isso lá em casa da minha filha e trouxe algumas folhas na bagagem e uns pés com raiz para ver se resistem por cá. Certamente não terei sorte, pois gostam de solos frios,  dai existirem em países do norte da Europa.



No início de Abril, quando lá estive, ainda não tinham flores, mas já se viam os botões. Os pés que trouxe comigo, pouco depois floresceram. São singelas e tão lindas as alvas flores de alho selvagem, também elas comestíveis.




Os amantes de alho vão certamente gostar muito destas folhas que se podem usar como tempero, em saladas, pesto, etc. Também é usado em sopas, quiches... embora ao ser cozinhado perca o sabor a alho. 
Preparei uma  aromática focaccia com algum do alho selvagem que trouxe. Bem sei que a maioria não poderá replicar esta receita, mas podem usar espinafres e o nosso alho comum e obter algo semelhante em aspeto e sabor.



Focaccia de Alho Selvagem
(Adaptação de My Food Memoreis de Jamie Oliver)

Ingredientes:

500 g de farinha de trigo para pão (T 65);
1 saqueta de fermento de padeiro (15 g);
1 colher de chá de sal;
350 ml de água tépida;
1 colheres de sopa de azeite.

Molho para cobrir: 

1 molho de alho selvagem;
sal marinho grosso;
azeite q.b.



Execução:

Misture o sal com a farinha. 
Dissolva o fermento na água tépida e junte o azeite.
Adicione à farinha e envolva.
Amasse durante 5 minutos, coloque  a massa numa tigela e cobra com pelicula aderente ou um pano de cozinha húmido e deixe levedar durante 1 hora.

Prepare uma pasta triturando o alho selvagem com o sal e o azeite (como se fosse um pesto).

Unte um tabuleiro fundo com azeite e polvilhe com pão ralado, salpique com sal.
Coloque ai a massa de modo a cobrir o fundo do tabuleiro. Espalhe o molho sobre a massa e com as pontas dos dedos pressione até tocar no fundo do tabuleiro, criando assim textura. Podem-se introduzir algumas folhas enroladas na massa. Salpique com sal grosso.
Deixe levedar novamente mais 1 hora, cobrindo o tabuleiro com um pano húmido.
Pré-aqueça o forno a 220º C.
Deixe cozinhar durante 20  a 25 minutos.


Fiz esta focaccia duas vezes e foi devorada em pouco tempo. Que pena a nossa floresta não ter esta espécie! Temos outras bem sei, não se pode ter tudo!



Foto de Nádia Gonçalves

Foto de Nádia Gonçalves

A minha filha teve a gentileza de me enviar estas belas fotos com o alho selvagem todo em flor, é um encanto esta floresta!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Iogurte Natural


Se te quis conquistar tive que me esforçar, levou tempo, persistência, fizeste-me esperar por ti. Quiseste que te conhecesse bem, que te visse tal como és, sem disfarces, sem enganos. 
Não foi amor à primeira vista, pelo contrario tratou-se de uma longa conquista!
Valeu a pena porque agora és meu e não te trocarei por nenhum outro.
É amor para a vida, um amor à antiga!


Consegui conquistar o Sr. Iogurte!
Depois de o conquistar tornei-me fiel e deixei de consumir iogurtes de compra. Compro iogurte natural para usar como "fermento", isto porque nunca me apetece deixar um dos meus para utilizar na execução da remessa seguinte.
Fazer iogurtes em casa é muito simples, mas requer paciência, tal como o pão, não se faz com pressa, requer tempo, não para os elaborar (fazem-se num instante), mas para por eles esperar!
Obter um iogurte bem firme, sem ficar peganhento ou viscoso, não é nada difícil, porém há alguns procedimentos a ter em conta e que podem transformar totalmente o resultado:
  1. A qualidade dos ingredientes é muito importante. Assegurem-se que escolhem um leite de qualidade, cheio de sabor. Eu não faço segredo da minha marca de leite favorita, é o leite de pastagem Terra Nostra Um leite nascido de vacas que pastam todos os dias ao ar livre e que são alimentadas com erva fresca, e que pela sua elevada qualidade foi premeado pela Associação Portuguesa de Nutricionistas.
  2. O leite em pó segue a mesma regra, invista num produto de qualidade,  como rende muito compensa a diferença;
  3. O iogurte que se usa como "fermento" deve também obedecer ao mesmo principio, eu prefiro o do tipo bífidus porque tem uma maior variedade de fermentos lácteos, ou então um bom iogurte natural;
  4. Adicionar nata melhora a textura e o sabor do iogurte. Porém a gordura não é amiga da saúde e por isso evito faze-lo, já leva leite meio gordo e leite em pó gordo...chega de gordura;
  5. A temperatura do leite no momento de juntar o iogurte deve situar-se entre os 45º C e os 50º C. Neste ponto ter uma Bimby ajuda imenso, mas um termómetro de cozinha serve da mesma forma. Usando o dedo como termómetro... às vezes corre bem, outras nem por isso (digo-vos isto  porque assim fiz durante algum tempo);
  6. Adicionar uma colher de sopa de açúcar ao preparado não se destina a adoçar o iogurte, tem por finalidade  "alimentar" os fermentos lácteos, que desta forma se desenvolvem melhor;
  7. O tempo de fermentação é outro factor decisivo. O resultado é melhor após 12 horas. Menos tempo de fermentação e o iogurte não fica tão sólido, mas caso se queira um iogurte mais semelhante ao líquido então 8 horas são suficientes;
  8. Durante o processo de fermentação a temperatura deve manter-se estável. Isto não se consegue dentro do forno,  embrulhados numa manta, numa mala térmica ou com qualquer outro método (embora muita gente garanta que obtém bons resultados e eu não duvido), acaba por ser uma sorte que corra tudo bem. As iogurteiras de linha banca são de baixo custo e garantem uma temperatura de fermentação correta;
  9. Os frascos, ou o recipiente que estiver a usar (faço muitas vezes numa tigela de vidro grande) não se tapam quando colocados na iogurteira, para permitir a  evaporação de alguma água. É mais um factor a contribuir para uma boa consistência do iogurte. Vão verificar que evapora bastante água;
  10. Finalmente, precisam de tempo em repouso no frigorifico, eu deixo sempre 12 horas. 

Preparam-se num instante, mas só estão prontos a comer 24 horas depois (fermentação + frio).




Não tenho nenhum curso de formação em confeção de iogurtes, as recomendações que vos deixei acima resultam de muitas experiências, tentativas e erros, sucessos, insucessos, e também alguma pesquisa.


Iogurte Natural


 Ingredientes:

1 l de leite meio gordo "Terra Nostra" meio gordo;

4 c. de sopa de leite em pó;
1 c. sopa açúcar amarelo;
1 iogurte natural bífidus.



Execução na Bimby

Prepare o iogurte colocando no copo da Bimby, 300 ml de leite, o açúcar e o leite em pó.
Selecione 5 min./temp. 80ºC/vel 3.
Junte o restante leite e o iogurte natural, selecione 5 min/45ºC/vel 3.
Coloque o preparado na iogurteira, com os frascos destapados, durante 12 horas.
Retire da iogurteira, tape os frascos e leve ao frigorífico  durante 12 horas.

Execução tradicional

Leve a lume brando 300 ml de leite, junte o açúcar e o leite em pó.
Mexa bem para dissolver o leite em pó e retire.
Acrescente o restante leite e verifique a temperatura, deve estar apenas morno quando juntar o iogurte. A temperatura ideal são 45ºC.
Junte então o iogurte e mexa bem.
Distribua pelos frascos, sem os tampar, e deixe fermentar na iogurteira durante 12 horas.
Retire da iogurteira e tape os frascos. Leve ao frigorífico outras 12 horas.



A receita que apresento é de um iogurte natural não açucarado, que pode ser usado de inúmeras formas. Se pretender obter um iogurte doce, junte aos ingredientes açúcar a seu gosto, vá adicionando-o ao leite e provando até ter a doçura que pretende. Há ainda várias formas mais saudáveis de adoçar sem ser com açúcar, como por exemplo usando stévia, adicioando um pouco de mel (no fundo do frasco ou no final por cima do iogurte), misturando passas, tâmaras, etc.
Depois de conseguir acertar com a receita base do iogurte vai querer varear adicionando-lhe  diversos sabores. Pode juntar especiarias como a canela, baunilha, ou flor de anis. Adicionar chocolate, leite condensado, coco, café. Pode  colocar compota, mapel syrup ou mel no fundo dos frascos, enriquecer com sementes e frutos secos...as possibilidades são vastíssimas.
Há imensas receitas para explorar, por AQUI encontra algumas bem boas. 
O que não se pode é juntar ao preparado fruta fresca  ou terá iogurtes talhados. Fruta fresca só no momento de comer o nosso delicioso iogurte.




São iogurtes que duram até 6 dias no frigorífico e não têm conservantes. 
Controlamos o açúcar e a gordura, A quantidade de açúcar que contêm os iogurtes que encontramos à venda é escandalosa! 
São amantes dos iogurtes gregos? Eu também era, já viram o teor de gordura?  Têm imensa, muita nata, por isso são tão bons! Não serão uma boa escolha se os quisermos comer todos os dias!
Quem está de dieta pode experimentarfazer  com leite  e leite em pó magros... nunca testei, não sei como ficam. Sei como ficam estes, consistentes, saborosos, mesmo muito bons!
Experimentem e venham cá dizer que tal ficaram.
Se duvidas persistirem sintam-se à vontade para perguntar que se eu souber não deixo de responder.